sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Um novo verbo, esperançar




O trecho abaixo foi extraido de um texto maravilhoso, que inevitavelmente nos leva a refletir sobre a vida a nossa volta equanto achamos que nada parece acontecer. Esse texto é de uma pessoa muito especial, meu mestre Áquila, que em pouco tempo, nos fez entender que a arte de ensinar não se restringe aos limites da sala de aula. Contemplem, reflitam e apreciem sem moderação...
[...]Espera é contemplar as galinhas no terreiro. Galinha “botadeira” põe seus ovos cuidadosamente em seu ninho, dia após dia. Depois, exila-se de tudo por 21 dias. 21 dias sem comida, sem bebida, sem as amigas do “puleiro”. 21 dias de proteção constante aos seus bens mais preciosos. 21 dias de calor terno. 21 dias que separam meras clara e gema de uma vida autônoma. Contemplar galinhas “botadeiras” é aprender constância, paciência, renúncia, proteção. O sonho não se faz na agitação e no barulho de um galinheiro. Contemplar galinhas nos faz ver que é a constância do calor da mãe, nem muito nem pouco, que gera os pintinhos. Quando eu era criança, roubei um ovo de um ninho e o coloquei dentro do forno ligado do fogão. Não deu certo. O ovo cozinhou. Muito calor mata a vida. Pouco calor não gera a vida que sonhamos. O que vai gerando a vida não é a pressa, mas o suor do dia-a-dia, a renúncia de estar entre amigos, de sentar-se sozinho e chorar, de sentar-se sozinho e estudar e trabalhar, a renúncia do imediato, a renúncia dos holofotes, a proteção dos sonhos contra chuva, vento e calor, contra inveja, ganância e competição.[...]
[...]Esperar nos ensina a desconfiar de muito barulho. Milhões de árvores crescendo não emitem som algum. Uma só árvore caindo pode-se ouvir de longe. A espera é que, no final, mostra que as muitas palavras e pirotecnias de alguém não passavam de barulho de um motosserra.
A espera e o escorrer da vida separam colegas de amigos. O tempo separa os amigos daqueles que são uma só alma vivendo em corpos separados. No final, descobre-se que estamos cercados de muitos colegas, poucos amigos, e raríssimos amigo de alma. No viver da vida podemos nos ferir, mas podemos também ser a cura.

Áquila Mazzinghy

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